sábado, 18 de agosto de 2012

.(a)deus


Verdade! Me perguntei hoje cedo o que fiz no dia anterior...?!!
Logo me veio uma dúvida, um arrependimento, uma pequena angústia. Parei e sentei em minha cama, tentando me lembrar de tudo que eu havia passado no dia 15 de abril de 1975. Cada pensamento tornara maior a minha angústia, lembrei-me de pouquíssimas coisas, das quais não haveria motivo pra tanto mal estar.
A manhã se foi e continuei a pensar. Aproveitei para fazer meus deveres e obrigações, por hora me perdia vagando em meus pensamentos a fim de descobrir o que tanto desejara.
Pronto! É isso! Acabo de lembrar de uma coisa, eu não liguei para meu amigo - um grande amigo por sinal, e pior, ontem foi seu aniversário. Fiquei durante toda semana lembrando e pensando o que daria a uma pessoa tão especial, acabei esquecendo de dar o mais singelo dos presentes, o mais simples e o mais barato: as minhas felicitações.
Corri na mesma hora, apanhei o telefone e tentei entrar em contato para ao menos pedir-lhe eternas desculpas pelo meu esquecimento repentino. O telefone tocou, tocou e tocou. Nada de atender. A minha angústia que já me consumia aumentara ainda mais. O que será que está acontecendo? Por que ele não atende o telefone? Será que sabe que sou e não quer falar comigo? Ai, meu Deus, por que esqueci do meu amigo?
Resolvi então largar tudo. Bastava de dúvidas, perguntas sem respostas e agonia por notícias. Fui até a sua casa. Bati, bati e bati, nada de atender a porta. Piorei ainda mais. Onde será que ele estará? Será que foi tudo culpa minha? Ele precisa de mim neste momento, em mais um ano de vida, em mais um ano lutando pela vida.
Na mesma hora fui aos prantos. Meus pensamentos se esbarravam, se perdiam e questionam entre si. Chorei, chorei e chorei. O que eu tinha feito não tinha perdão, ele estava certo de não querer me ver, de não me atender, afinal, eu esqueci do seu aniversário, uma data mais que importante desde o dia 05 de Março, quando assim ele ficou sabendo que suas comemorações tinham limites, que não comemoraria por tanto tempo. Meu amigo ficou doente, uma doença maligna o afetou, usufruindo de seu corpo e do seu coração. A partir daquele dia ele passou a viver mais, sorrir mais e aproveitar cada minuto que restara desta marcada trajetória.
O resultado me chocou, me magoou e me fez sofrer. Não podia acontecer com ele. Por quê logo com ele? Uma pessoa que vivia pela felicidade alheia que de repente se viu precisando de alegrias alheias para suportar e caminhar. Eu sempre estive presente em todos os seus momentos, “somos amigos, não somos?” - Dizia a ele sempre que precisava. Deixava claro meu carinho, admiração e orgulho de ter encontrado alguém como ele. E como eu pude esquecer do seu aniversário? Ele andara tão triste. Eu planejava até uma festa surpresa com todos os outros amigos, precisaria arrancar um sorriso dos velhos tempos, do tempo em que era alegre e saudável. Lembrei de cada saída, de cada momento que passamos juntos.
Sentando em sua porta fiquei lembrando de como somos amigos – suspirei. Quanto eu gosto do meu querido amigo.
Esperei um momento na esperança que ele fosse aparecer, poderia ter saído, ter ido fazer compras, nunca se sabe. Mas fiquei ali por muito tempo sentado, sem nenhuma notícia, nenhum sinal.
Meu erro me fez persistir e tentei ligar novamente. O telefone tocou, tocou e tocou, ninguém atendia. Já magoado pelo que fiz, por não ter conseguido me desculpar, me levantei e caminhei pela rua. No caminho encontrei uma vizinha e perguntei onde ele se encontrara, então, com uma ar triste e fundo ela disse em poucas palavras: “Foi melhor para ele!”
Mas como assim?? Não estava entendendo aquelas palavras, o que teria sido melhor para ele?? Onde estava meu querido amigo?? Eu precisava encontrá-lo, me desculpar, dizer o quanto ele era importante para mim.
Me desesperei! Meus pensamentos voavam junto a minha angustia, não queria acreditar naquelas palavras, não era esse o sentido, não podia!!
Voltei a perguntar aquela senhora sobre meu amigo e ela em pequenas palavras novamente me deixou dizendo: “Ele se foi!”
Meu mundo havia caído, o céu havia aberto e as minhas lágrimas não se continham. Por quê? Por que ele haveria de ter morrido? E aquilo tudo que eu precisava dizer a ele? E agora?? Eu deveria ter lhe contado, por quê meu Deus, por quê ele? Andei, andei e andei. Andei perdido em meus pensamentos, inundado em minhas lágrimas, sendo preenchido pelo vazio e pela tristeza.
O arrependimento me calou, já não sabia o que fazer, já não tinha mais como me desculpar pela minha ausência, por tudo...
Fui para minha casa, precisava ficar longe de tudo e de todos para então tentar entender e acreditar no que havia acontecido. Andei pela casa sem rumo, tudo que eu precisava é desabafar, dizer o que me sufocava, precisava apenas do meu amigo ao meu lado.
Andando achei jogado embaixo do armário um papel, não havia visto aquele papel. Quem haveria de ter jogado? Quanto tempo estaria ali? Se já não me bastassem tantas dúvidas, havia encontrado mais uma para meu péssimo dia.
Peguei o papel para ver o que seria, estava sem remetente e no destinatário dizia: “Ao meu único amigo”. Desesperadamente tornei a terminar de abri-lo, dentro de mim uma alegria me preenchera, sabia que só uma pessoa escreveria daquele jeito.
Abri e comecei a ler: “Meu grande e único amigo, sabes que tudo que passamos está guardado aqui dentro, esteve comigo quando mais precisei, quando mais me senti sozinho você aparecia me fornecendo a sua importante companhia. Hoje sinto que o meu tempo está acabando, meus dias estão no fim, então senti uma grande vontade de escrever esta carta, poderá está se sentindo culpado por não dar as felicitações no dia do meu aniversário, mas não guarde tristezas neste imenso coração, eu te perdoou e jamais esquecera de mim nos momentos mais importantes, aqueles que não são datas especiais pra se lembrar de alguém. Eu tenho que ir. Deus me quer ao seu lado, e eu estarei ao lado dele esperando um dia por você. Você está no meu coração, meu grande amigo. O corpo acaba, as coisas materiais se desfazem mas a alma é eterna, foi nela que te guardei.
Te levarei sempre comigo.
Um grande abraço... Adeus!”
As palavras escritas borraram de tantas lágrimas. Saber que ele não estava chateado comigo foi a melhor coisa que havia acontecido naquele trágico dia. Assim que terminei, eu respondi a sua carta em silencio: “Vá em paz meu irmão, fique ao lado Dele olhando por mim. Obrigado por me desculpar e nunca hei de esquecer você. É eterno, é único... é meu grande amigo.
Até um dia!”
Guardei aquela carta com todo meu carinho, me acalmava ter alguma coisa dele comigo, saberia então que ele estava ali, poderia senti-lo, poderia saber que ele estava bem. Deitei satisfeito por aquele momento e contente por saber que ele não morrera, e estaria bem presente, para sempre, dentro do meu coração.
Boa noite, meu amigo !!

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